Por David Fialkow Sobrinho
Mestre em Economia

Por que o dólar sobe e a bolsa cai? Por que a falas do Lula, de destinar verbas aos atingidos pela enchente e pedir baixas nas taxas de juros, deixam o mercado financeiro em polvorosa?


Retorna-se ao tema do rentismo. Rentistas são os que vivem de papéis do Tesouro, que rendem taxas de juros (Selic) definidas pelo Banco Central. É a turma da Faria Lima, como são conhecidos os rentistas bilionários.


As atuais taxas de juros, as mais altas do mundo não em guerra, beneficiam a Faria Lima em 790 bilhões de reais ao ano. Este ganho eleva as despesas financeiras do governo em valor idêntico.
Assim, os ganhos dos rentistas não vêm do ar, mas dos cofres públicos, dos impostos que a sociedade paga.


Para garantir a galinha dos ovos de ouro, disputam o orçamento público com a sociedade, exigindo compressão das despesas não-financeiras, o tal Déficit Zero. As despesas não-financeiras são TODAS as demais que não envolvem juros, como saúde, educação, previdência, etc.


O dólar sobe e a bolsa cai porque os rentistas estão descontentes que o governo destine recursos a áreas vitais, como saúde, educação, meio ambiente. Têm calafrios ao ver verbas adicionais socorrerem atingidos pela enchente, famílias, empresas e estradas. O que para nós, comuns, é justo e necessário nesta hora de aperto, para eles seria falta de reponsabilidade fiscal.


Acham desperdício despesas de dezenas de bilhões nestas áreas, mas não acham o mesmo quanto às centenas de bilhões em despesas com juros que abalam o orçamento nacional.


Ficam com os nervos à flor da pele com a proximidade do término do mandato do presidente do BC, Roberto Campos. O Copom perde a maioria de membros ligados aos anseios do mercado financeiro. O que pode levar à baixa dos juros, reduzindo os ganhos dos rentistas e o rombo nas contas públicas.


Existe um mercado que não é o financeiro, o da produção. A Tramontina, os lojistas, as empresas de serviços sabem que juros baixos favorecem as vendas, elevam os empregos. Os trabalhadores crescem de importância.


O BC baseia suas decisões no Relatório Focus, que é produzido por instituições financeiras, reflete o ângulo e os interesses do setor, não os da sociedade. Isto mostra o viés do órgão. De técnico não tem nada.


Mas, os líderes da produção não têm assento no BC, sequer são ouvidos pelo órgão. E a imprensa pouco lhes pergunta sobre os juros. Como se o “mercado” fosse apenas a Faria Lima. Mas, isto é menos de 0,05% da população.


O Brasil é bem maior. Precisa se unir e se mobilizar, senão o rentismo impede a queda dos juros e o país de crescer.

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