Por Elenice Bertoldo, psicóloga do Sindicato dos Metalúrgicos de Carlos Barbosa

A preocupação mais urgente da pandemia do coronavírus é em relação a saúde física da população infectada com a covid-19. Pouco tem se discutido sobre os impactos psicológicos da quarentena, bem como sobre as possíveis formas de atenuá-los. Sabemos que existem muitas formas de lidar com o isolamento social, porém pessoas com uma estrutura psíquica mais fragilizada, mais vulnerável tentem, neste período de isolamento, intensificar os sintomas já vivenciados.

No entanto, é notável que à medida em que a pandemia ganha proporção, aumenta também uma fragilização psíquica coletiva. Temos escutado as pessoas falarem do medo. Medo direto da perda da própria vida ou da de entes queridos, medo da perda do trabalho e dos lugares que conquistamos ao longo dos anos. Medo da perda do sustento para o mais mínimo da dignidade humana como o alimento, medicações, moradia. Sabemos que o confinamento terá consequências graves para muitas pessoas, ainda mais intensificadas para aqueles que têm predisposição para desenvolver quadros de depressão, crises de pânico, compulsões, inclinações a vícios e até acessos de raiva.

Acontece que quando as significações já estabelecidas, em uma pessoa, são desestabilizadas nos vemos obrigados a sair da nossa zona de conforto, reelaborar e dar novo sentido ao nosso viver. Se não fizermos isso podemos adoecer psiquicamente. Temos muito para aprender, o que estamos vivenciando com a atual pandemia é que as coisas que encontramos agora são muitas das que vimos nas pandemias passadas como o grande número de pessoas hipocondríacas que interpretam mal sintomas comuns e se direcionam para hospitais angustiadas com a possível contaminação do Covid-19, observamos também compras motivadas por pânico nas pandemias anteriores, e se repetindo no atual cenário. Em contrapartida também, vemos a ascensão da solidariedade das pessoas, se unindo, se apoiando e se ajudando mutuamente.

Nesse momento, para cuidar dos demais, é preciso se afastar fisicamente, ficar em casa. E para não adoecermos, é preciso sentir que estamos com os outros simbolicamente, se sentir amparado, escutado. Cabe a nós refazermos o sentido de viver diante do imprevisto, como no caso da pandemia, é imperativo para não adoecermos psiquicamente. Este tempo pode ser ideal para olharmos melhor para nossas relações, para nossa vida, de modo geral, pois, estávamos vivendo uma aceleração muito grande, e agora desaceleramos.

Cabe lembrar que os seres humanos são resilientes, não gostamos de ficar socialmente isolado, do fato de não podermos continuar com nossa vida, mas vamos sobreviver. Nestas ocasiões é importante entender a fonte da angústia. Existem pessoas com problemas emocionais preexistentes que as levam a ficar muito angustiadas com a pandemia, esses problemas precisam ser solucionados, é necessário entender a origem dos sintomas.

Orienta-se que as pessoas, de modo geral, limitem a quantidade de notícias e posts em redes sociais sobre a pandemia, as informações são preocupantes, mas que nem sempre são verídicas, na mídia ou em redes sociais gerando mais angústia e medo. Outros têm preocupações reais, sérias condições médicas que as colocam em risco em caso de infecção. Enquanto outras ainda, estão ansiosas porque sofrem dificuldades econômicas legítimas provocadas pelo distanciamento social e diante da impossibilidade de trabalhar.

Sabemos da dificuldade, de muitas pessoas, para modificar sua rotina, principalmente diante de tantas preocupações, entretanto planejar o que vamos fazer auxilia neste período, também é importante ter uma estrutura organizada durante o dia, ajustar o seu tempo da melhor maneira possível. Estabelecer regras sobre a divisão do tempo entre trabalho e descanso. Para quem tem filhos é importante direcionar um tempo para seu lazer e manter uma rotina de estudos, tarefas. Uma opção é implantar atividades de desenho para os pequenos. Para as que sabem ler e escrever, proponha leitura escrita, brincadeiras lúdicas dentro de casa. Para os idosos, privados de visitas, que podem ter mais dificuldade com a tecnologia, uma opção é oferecer jogos, palavras cruzadas, cartas, atividades que estimulem a mente.

É importante entrar em contato com familiares ou amigos por meio de redes sociais ou mensagens de texto. Ressaltando que estar conectado via internet não significa um isolamento menor, esta condição apenas pode nos auxiliar a nos sentirmos menos sozinhos. E, se necessário, busque ajuda profissional para auxiliar nas questões psicológicas e cuidar da sua saúde mental e da sua família.

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