Há um ano, em 12 de março de 2020, o Brasil tinha a primeira morte por Covid-19 no país. O óbito só foi reconhecido como decorrente da infecção pelo novo coronavírus três meses depois de acontecer, com confirmação por exames laboratoriais. A vítima era uma mulher de 57 anos, de São Paulo.


Há exatamente um ano depois, o país vive seus piores dias de pandemia. A quantidade diária de falecimentos atual está acima dos 2.200 já há alguns dias e o número total de vítimas da doença no país já se aproxima de 273 mil. Mesmo com a campanha de vacinação em curso, ainda que a passos lentos, não há perspectivas de melhora nesse cenário.

E isso é incompreensível. Desde o início da pandemia, o Brasil assistiu aos acontecimentos de posição privilegiada. “O Brasil teve a sorte de ver tudo antecipadamente, especialmente com o que houve na Europa”, lembra José Rocha, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).


O desenrolar da disseminação da doença no continente europeu foi uma amostra do que poderia acontecer por aqui. “Alguns Estados tomaram medidas de prevenção naquela época e conseguiram até conter o crescimento rápido da epidemia naquele momento.”


Só que isso não foi suficiente: mesmo estando à frente do tempo e tendo a oportunidade de se preparar para enfrentar a chegada e o espalhamento do novo coronavírus, o Brasil não impediu que a doença causasse estragos irreparáveis por aqui. “A gente conseguia, de certa maneira, imaginar o que estava por vir. Mesmo assim, parece que, um ano depois da primeira morte por Covid-19 no país, não aprendemos nada”, avalia Rocha.


Para o médico, a disseminação de variantes do novo coronavírus na Europa, no segundo semestre de 2020, mostrou que o controle da epidemia só viria com a chegada de uma vacina. O Brasil não ligou: o governo federal desperdiçou a chance de comprar o imunizante por achar que não era necessário e que, se em algum momento tivesse interesse nele, as farmacêuticas nos receberiam prontamente.


Não demorou para a tragédia começar a se desenhar por aqui a partir de novembro: houve eleições e, em seguida, festas de fim de ano e de carnaval. O número de novos casos logo passou a aumentar significativamente. “Até esse momento, tínhamos contado com a sorte. Os encontros nessas datas trouxeram ao Brasil o cenário de tempestade perfeita, com a disseminação da cepa de Manaus por todo o país”, destaca Rocha.


Em outras palavras, a situação atual, de quase esgotamento dos sistemas público e privado de saúde, é consequência da disseminação de uma variante com maior transmissibilidade e da falta de cuidado com o distanciamento social. “O Brasil hoje vai na contramão do mundo. Não há nenhum grande país do mundo que esteja hoje passando o que o Brasil passa. É inadmissível.”

Fonte: olhardigital.com.br

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