Coluna da psicóloga Elenice Bertoldo, conveniada ao Sindicato

O trabalho é referência do modo de vida do ser humano, do estabelecimento das relações afetivas, da construção das habilidades e competências, assumindo importância fundamental na saúde física e mental do homem, pois trata-se de uma parte importante da vida e precisa ser fonte de realização, sustento e crescimento.


Contudo, as constantes modificações na sociedade e nas relações sociais de produção, no decorrer do desenvolvimento do capitalismo, foram acompanhadas de mudanças nas manifestações de sofrimento e psicopatologia nos indivíduos. Essas mudanças geram impactos significativos na saúde física e mental dos trabalhadores e interferem diretamente no bem-estar dos mesmos, na forma como trabalham e, inclusive, na maneira em que se organizam coletivamente.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. A saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais, depende do bem-estar físico e social. Esse conjunto é fundamental para que, como seres humanos, tenhamos plenas capacidades individuais e coletivas para pensar, nos emocionar, interagir uns com os outros e aproveitar a vida.


Cabe ressaltar que embora a presença de sintomas se mostre como condição necessária para detectar uma doença mental, sua ausência não significa a constatação de Saúde Mental. Portanto, é preciso ir além da aparência do fenômeno para que se possa identificar o mal-estar, o sofrimento no qual ainda não há doença manifesta.


Os dados a cerca do crescimento das doenças mentais dos trabalhadores são alarmantes e podem ser apurados nas estatísticas oficiais, como as da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Previdência Social (MPS). A OMS mostra que os transtornos mentais podem atingir até 40% dos trabalhadores, sendo que 30% são considerados transtornos “menores”, e entre 5 e 10% são de nível grave. Os dados do MPS mostram que os afastamentos por problemas de saúde mental cresceram muito nos últimos anos, considerada a terceira maior causa de afastamento do trabalho no país. Tais informações apontam a relevância em compreender como ocorre o desgaste mental do trabalhador, e quais ações podem ser realizadas pelas empresas para mudar esse quadro.


Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2001), os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho são resultado de contextos de trabalho em interação com o corpo e o aparato psíquico dos trabalhadores.


Muitos dos problemas podem surgir quando nossa saúde mental não está em dia. Para auxiliar na identificação desta condição os colaboradores podem ajudar no reconhecimento dos sinais de depressão entre os colegas, como a tristeza excessiva, a falta de esperança, a perda de interesse em atividades que antes traziam prazer e as modificações de apetite e hábitos de sono.


Também é recomendado que o sujeito busque ajuda quando necessário e apoie quem esteja precisando de ajuda, converse com seu empregador sobre suas necessidades emocionais e pratique o autocuidado e a capacidade de se adaptar a novas situações. Procure educar-se sobre estresse, saúde e qualidade de vida; refletir sobre suas escolhas pessoais; ter consciência dos seus limites; atividades de lazer, enfim, saber lidar com os imprevistos da vida.


Certamente o trabalho ocupa lugar central na vida das pessoas, pois é um meio de sobrevivência, de realização pessoal e profissional. É uma das principais formas do ser humano dialogar com seu meio social, trata-se de um sistema de interações que envolvem questões pessoais, relações interpessoais, expectativas, e este montante de vivências interligadas e a forma como cada sujeito lida com suas experiências definirá o estado de saúde mental.

Contextos geradores de sofrimento:

•A falta de trabalho ou a ameaça de perda de emprego;
•O trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido;
•Situações de fracassos, acidente de trabalho ou mudança na posição hierárquica;
•Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, manifestação de insatisfações e sugestões dos trabalhadores em relação à organização;
•Fatores relacionados ao tempo, o ritmo e o turno de trabalho;
•Jornadas longas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas;
•Pressão por produtividade;
•Níveis altos de concentração somada com o nível de pressão exercido pela organização do trabalho;
•Vivência de acidentes de trabalho traumáticos.

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