Por David Fialkow Sobrinho, mestre em Economia
Uma das razões da economia não cair mais foi o auxílio emergencial a trabalhadores informais. Foi o que, em boa parte, movimentou a economia, sem falar que socorreu as famílias, o que por si já o justificaria. Em grande medida, é o que explica a recuperação nas metalúrgicas em Carlos Barbosa após a queda de março. Junto com o consumo de itens de cozinha e obras em casa.
Mas não veio fácil. O governo era contra, alegava razões ideológicas, contra o Estado na economia, que se restauraria por si mesma. Porém, a economia desabava, o autoajuste do mercado não veio, pela enésima vez na história econômica.
Foi a pressão da sociedade que fez o governo recuar. Admitiu dar R$ 200, que o Congresso fez subir a R$ 600. Mão fechada, complicou o que pode, burocracia, demora, filas para receber. Quis encerrar em junho, mas novamente a pressão prorrogou até agosto. Contrariado, prometeu que dali não passaria. Mas, com apelos de todos os lados, cedeu, porém reduzindo-o a R$ 300 até 31 de dezembro.
A mesma “ideologia” não se aplicou aos bancos, que receberam linha de R$ 1,3 trilhão em março, sem pressão, sem burocracia, online.
No orçamento para 2021, enviado ao Congresso, o governo não prevê o auxílio, o que acende luz de preocupação na indústria.
As dificuldades da economia podem se agravar com uma possível segunda onda do vírus. Até autoridades do governo admitem que, mesmo que a economia cresça, os empregos podem demorar a voltar.
O governo usa como desculpa o déficit público, mas esquece dele na hora de pagar centenas de bilhões em juros e amortizações aos bancos. Recursos que não irrigam a economia. Voltam para serem remunerados pelo Tesouro ou BC. Farra do gasto público.
Mas, o dinheiro do auxílio emergencial vai todo para o comércio e os serviços, movimenta a economia. E gera tributos, as receitas que o governo precisa. A pressão vai voltar.